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12 de jun. de 2009

Concepção de Índio.


Acredito ser conveniente iniciar esta atividade enfocando uma situação real em que aconteceu com minha filha, no segundo ano do ensino médio, precisamente no mês passado (maio/2009). Na aula de filosofia, a professora falava sobre CULTURA, os alunos deveriam fazer um texto analisando os diferentes conceitos de CULTURA em suas diferentes concepções, mas minha filha levantou a mão e interrompeu a professora quando esta deu um exemplo: “Os povos indígenas que aqui viviam antes da colonização não possuíam cultura...”. Ouve uma acerrada discussão na aula entre aluna e professora, minha filha deu vários exemplos de cultura indígena e afirmou que eles possuíam a sua própria cultura. Resumo: Minha filha fez uma redação sobre as diferentes concepções de cultura, mencionou o exemplo da concepção errada de cultura da professora e apesar de ter feito uma redação digna de vestibular, sua nota no trimestre não foi compatível com seu desempenho, rendimento e aquisição de conhecimentos.
Este exemplo nos dá a idéia do que os brasileiros ainda pensam sobre os povos indígenas e o quanto é importante os professores construidores de conceitos precisam ter as informações necessárias ao exercício do magistério. Quão sério são os preconceitos e conceitos vividos por estas gerações descendentes de fatos históricos tão transformadores de consciência da e na sociedade.
“Estimativas demográficas apontam que por volta de 1500, quando da chegada de Pedro Álvares Cabral a terra hoje conhecida como Brasil, essa região era habitada pelo menos por 5 milhões de índios. Hoje, essa população está reduzida a pouco mais de 700.000 índios em todo Brasil, segundo dados de 2001 do IBGE. Falamos na interdisciplina de filosofia sobre a barbárie de Auschwitz que dizimou milhares de pessoas na segunda guerra mundial, assassinos produtos da civilização e ditos pessoas com cultura. O mesmo aconteceu durante a colonização do Brasil, milhares de índios mortos por que negaram-se a serem submissos e escravos de “um povo dominante pela barbárie de um povo civilizado e culto”. Hoje ainda continua esta dizimação, através das doenças e das políticas públicas excludentes que não chegam às comunidades indígenas. Comunidades excluídas à margem da sociedade. Chegaram aos índios todas as mazelas da civilização, mas, a eles não chegaram os recursos públicos, as políticas públicas, os movimentos de solidariedade, a cultura=conhecimentos que oportunizam a participação/transformação do indivíduo em consciência política transformadora da sociedade.
Sou natural de Tenente Portela, região noroeste do estado onde foi palco de vários fatos históricos envolvendo as tribos indígenas daquela região. Por ser perto da fronteira com a Argentina, durante as revoluções, guerra dos farrapos etc. Muitos índios foram mortos, alguns serviram ao exercito como escudo aos brancos por sua força física e conhecimento da região por meio das matas. Muitas tribos foram mortas por pura covardia em massacres, os índios não eram considerados gente e por onde os soldados passavam matavam as mulheres e crianças por pura diversão. Até hoje o conceito que os habitantes daquela região têm de índios, mesmo convivendo com eles, cruzando diariamente por eles nas cidades é que é um povo inferior em todos os aspectos, sem cultura, sem conhecimentos e dignos de desconfiança. Minha irmã é psicóloga e fez um trabalho desenvolvendo um projeto atendendo pacientes indígenas. Segundo ela é grande o número de suicidas, estupros às crianças e adolescentes nas tribos indígenas. Não há casos de casamentos entre os índios e pessoas de outras descendências. Ainda é assustador e exclusão e o preconceito em relação a estes povos.
Quanto a denominação índios X povos indígenas sou obrigada a discordar da
citação do texto sugerido para estudos nesta interdisciplina (OS INDIOS NO BRASIL
QUEM SÃO E QUANTOS SÃO. Texto extraído do Livro “O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje” – Brasília, 2006. Autor: Gersen dos Santos Luciano – Baniwa. Site: http://www.trilhasdeconhecimentos.etc.br/) “Mas esta denominação é o resultado de um mero erro náutico. O navegador italiano Cristóvão Colombo, em nome da Coroa Espanhola, empreendeu uma viagem em 1492 partindo... Castigada por fortes tempestades, a frota ficou à deriva por muitos dias até alcançar uma região continental que Colombo imaginou que fossem as Índias,...” Segundo a biografia de Cristóvão Colombo, escrita por seu filho, Colombo saiu em busca de novos continentes por que acreditava que a terra era redonda e que além do mar existiam novos povos e novas terras. Quando Colombo chegou à América seu maior êxito foi em provar aos cientistas que ele estava certo. Tanto que seus inimigos devido à coragem de Colombo e sua ousadia e esperança, tentaram tirar o titulo de descobridor e que foi devido às suas esperanças que todas as gerações futuras teriam de lembrar de seu nome como o que provou que a terra é redonda. Aconselho que assistam o filme 1492 A Conquista do Paraíso, história do Brasil, baseado na biografia de Colombo escrita por seu filho Fernando segundo os relatos do pai. É um filme muito importante para se compreender muito da história de nosso povo índio, sua denominação, cultura, dizimação e todo o contesto histórico deste povo, pois, toda a história da descoberta das Américas e colonização estão diretamente ligadas as suas ações e reações enquanto povo que sempre lutou em preservar a sua própria cultura e consciência política na sua concepção. Os povos que aqui viviam foram chamados índios por que a idéia era descobrir novas rotas para se chegar as índias e como eles não tinham a menor idéia da origem do povo que eles encontraram aqui, batizaram-nos de índios por causa do destino final da viagem. Destino este que foi apenas motivo a principal idéia de Colombo que era provar que a terra realmente é redonda.
Muitas coisas devem ser feitas para mudarmos a nossa consciência e vermos os povos indígenas como uma de outras descendências, é impossível passar uma borracha na discriminação e violências às quais tem constituído a história dos índios, até porque estas formaram o que eles são hoje. Mas é possível criar políticas públicas e desenvolver consciências que um dia possam definir povo indígena=uma descendência, uma cultura. O fato de haver concursos exigindo uma das diferentes línguas indígenas para professores de escolas indígenas, já mostra a preocupação e movimento em prol do resgate de sua cultura e raízes enquanto povo que faz parte da comunidade brasileira.
Costuma-se generalizar povos indígenas desconsiderando a identidade étnica de cada tribo, as diferenças culturais entre eles denominando-os como sendo todos iguais. A discriminação desconsidera que eles possuam origens diferentes e bem distintas entre si, bem como seus costumes e culturas bem distintas. Trabalhar em sala de aula enquanto escola e professores as diferenças culturais dentro da etnia indígena mostra outra concepção de índio, um povo que sim possui cultura, costumes diferentes, opiniões e posições políticas e que só não foi dominante nas guerras e colonização por não possuírem armas e um caráter de extermínio, vaidade de posses e poder como os povos que aqui invadiram suas terras. Suas lutas sempre foram em prol de fender a sua gente e a sua cultura. Um povo forte arraigado às suas origens, a ponto de morrer em sua defesa. “... eles representam hoje o segmento indígena mais ativo e mais combativo na busca por reconhecimento e visibilidade política, buscando marcar posição e fronteira étnica que lhes garantam um espaço sociocultural e político num mundo que ilusoriamente se pretende cada vez mais mono cultural e global...” Eu diria e acrescentaria aos conceitos de identidade do SER ÍNDIO, que ser índio é ter uma personalidade forte jamais vista, única e diferente entre si, diferente entre tribos e isso é o que explica a força na luta por serem reconhecidos não como iguais aos outros povos com os mesmos direitos etc e tal, mas como indivíduos únicos, diferentes e originais, que querem ser reconhecidos pelo que são por suas verdades identidade e significados.

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