Esta é uma postagem de análise da história da educação dos surdos e o filme "o menino Selvagem". Acho interessante compartilhar esta reflexão para pensarmos tanto quanto mais, sobre nossa postura enquanto professores à respeito dos surdos.
Cratylus de Plato, 368 ac, já sinalizava a importância e necessidade que nós seres humanos temos de nos comunicar, cita um diálogo entre Sócrates e Hermógenes fazendo uma observação da linguagem dos sinais usada entre surdos-mudos. O menino selvagem, quando encontrado não tinha essa necessidade, uma criança de onze ou doze anos que foi capturada num bosque, tendo vivido afastado da sua espécie e ficando depois à guarda do Dr. Jean Itard, pois não tinha nenhuma experiência com outro ser humano até então e havia desenvolvido habilidades de conviver consigo mesmo e o ambiente sem precisar de outrem. Isso me leva a pensar que as estruturas cognitivas que não estão construídas não são reconhecidas pelo cérebro e não despertam na consciência, não existem. Por outro lado o menino possui habilidades desenvolvidas as quais nós civilizados jamais possuiremos, desenvolveu estruturas cognitivas conforme as necessidades. Muitas vezes com nossas crianças em sala de aula desejamos que elas aprendam determinadas coisas que parecem não despertar nenhum interesse, as crianças, aparentam não ter a consciência do que estamos falando. Quem sabe não se trata disso? Não faz parte do mundo e da realidade delas e por isso, alguns conceitos e algumas estruturas cognitivas devem ser desenvolvidos de um ponto mais primitivo.
As tentativas de fuga do menino selvagem mostram sim as necessidades que possuímos de estar “em nosso mundo”, voltarmos ao que somos e ao que “nos pertence”, à nossa realidade. Lembro então de Paulo Freire e sua metodologia de ensino baseada na percepção de mundo e a realidade dos alunos com os temas geradores, “conhecer o mundo e refletir sobre ele para compreendê-lo e transformá-lo”. Assim como o menino selvagem, os surdos-mudos eram objeto de estranheza na sociedade desde a idade média até os dias de hoje. Quando entramos em um ônibus e nos deparamos com alguns passageiros comunicando-se por LIBRAS, ficamos perplexos e admirados. Tudo o que é diferente sempre foi encarado com muita dificuldade pelas pessoas. Compreender e buscar conhecer o diferente elimina os preconceitos e passamos a interagir e nos comunicar com naturalidade.
No filme o menino foi tratado como um anormal. O que é normal e o que é anormal? O menino não era agressivo, só teve seu desenvolvimento estruturado de acordo com seu mundo. É diferente com cada um de nós hoje? Não. Jean Itard, apesar de suas boas intenções e interesse em compreender o menino, compreendia suas funções em educá-lo, ou seja, transformar sua natureza na que ele acreditava ser o Normal. Todo o tempo tentando modificar sua personalidade selvagem. Com o passar do tempo o menino, por conviver com outros seres humanos começa a ter a necessidade de comunicar-se, um exemplo é ele pegar uma tigela e levar até a governanta para demonstrar que estava com sede, porém ainda devido a necessidades. O que é importante escrever é a forma com que Victor dispusera-se em observar, aprender e seguir as vontades e ordens de Itard, isso se deve ao afeto e carinho com que construíram uma relação afetiva. Assim podemos lembrar em sala de aula que as relações afetivas estão diretamente ligadas à aprendizagem e como disse Itard “cada obstáculo superado prepara para o seguinte”, lembro-me então de Piaget e sua teoria de desenvolvimento em que cada estrutura cognitiva é base para aproxima. Como toda a criança Victor é naturalmente curioso e está deve ser nossa consideração ao prepararmos e planejarmos as atividades de aula. Não concordo com a pressão e insistência até a exaustão com que Itard conduziu seu método, muitas vezes Victor conseguiu ou não realizar o que lhe era solicitado, não por ser aprendizagem adquirida, mas, como ato mecânico por que foi obrigado a agir assim.
Acredito que muito se tem feito ao longo da História para buscarmos compreender os surdos, desde quando eram encarados como doentes mentais passando depois a serem vistos como deficientes físicos e agora como indivíduos capazes de qualquer habilidade que um não surdo, inclusive a linguagem e comunicação. No entanto ainda estamos engatinhando em relação a convivermos e nos relacionarmos com naturalidade, nos comunicando e estabelecendo laços e relações sem barreiras do preconceito e ignorância.
Webgrafia:
C:\Documents and Settings\elisangela\Desktop\o menino selvagem.htm
C:\Documents and Settings\elisangela\Desktop\historia_surdos.htm
Um comentário:
Olá, Elisângela:
Aqui fazes uma ligação fantástica entre os aspectos observados no filme com a realidade da sala de aula, por exemplo.
Comentas o quanto aprendemos conforme a necessidade e gostei bastante da relação que fizeste do Victor com os alunos em sala de aula.
O propósito das atividades é exatamente esta: poder refletir, associar, pensar além do que já havia sido pensado.
Abraço, Anice.
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