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1 de mai. de 2010

IDENTIDADE PRÓPRIA--> IDENTIDADE SOCIAL-->NECESSIDADE DE COMUNICAR-SE = FALAR

       Com base nas constatações feitas no relatório de estágio da segunda semana, direcionei meu olhar para aprendizagens que meus alunos precisavam construir, antes de constituir seu próprio corpo, como indivíduos. Ter noções do que faz parte do rosto, por exemplo. Foi muito interessante a atividade da rodinha na segunda feira. Alguns alunos não quiseram de forma alguma, pegar um bonequinho da chamada, com os símbolos, porque este não era o seu. Percebi o quanto eles se apegam a determinados objetos como sendo seus e a dificuldade em conceber a idéia que “há mais coisas no céu e na terra que não são suas” e, que podem relacionar-se com elas. Óbvio que há alunos com uma maior maturidade e pegaram os símbolos de seus colegas e entregaram para seus respectivos representantes, mas, o que me chamou a atenção, foi esta relutância em até mesmo pegar na mão um objeto em que eles tinha plena consciência de não pertencê-los. Nestes casos também choraram quando outra criança pegou seu símbolo.

       Sélia Silva Guimarães Barros, em seu livro PSICOLOGIA E CONSTRUTIVISMO (pág. 168), diz que o ser humano vivencia dois momentos em ser membro de um grupo social: socialização primária e secundária. O primeiro em que o bebê é apenas um ser biológico, vai se tornando membro da família e de seu bairro. Escola, é então, um grupo social que faz parte do processo secundário. Levamos em conta, agora, o fato de esta criança estar sendo inserida em um grupo social, ainda na idade em que alguns aspectos do desenvolvimento infantil (Piaget), não estão estruturados como aprendizagens, conhecimentos e concepções. Temos de tomar cuidado, então, esta criança, não possui dificuldades de relacionar-se, como já li em muitos pareceres descritivos, mas, não experienciou situações e nem alcançou maturidade para compreender alguns conceitos de identidade social. Sélia diz que a socialização primária é um processo que se internaliza na família. O que esperar de crianças que aos dois anos de idade chegam a ficar das 7 horas às 18h. na escola, e, quando chegam em casa, vão dormir por que as necessidades biológicas assim determina? A escola passa a ter que fazer o papel da família. Detalhe, não é a constituição familiar real da criança que às vezes é filha única, por exemplo. Tudo entra em conflito e algumas lacunas podem se estabelecer de forma importante na formação da identidade destes sujeitos. “ A mente da criança irá absorver aspectos da realidade que estão na mente dos adultos com quem convive, seus sentimentos para com a vida, suas atitudes, seus valores” (Sélia Barros, pág.: 169).

            A música trabalhada esta semana rendeu muito mais que minhas expectativas. Cantar com as crianças: “Janela, janelinha, porta, campainha, piiibiiit”, gesticulando com os dedos nos olhos, boca e nariz, perceberam seu rostinho com estes “objetos” estranhos. Estranhos, porque mesmo sendo do seu rostinho, eles pareceram ter vida própria (animismo). Mas, o importante, neste momento, foi elas se darem conta de que em seu rosto existem os olhos, a boca e o narizinho. Que também, nos outros indivíduos o rosto tem a mesma contextualização. Quem sabe não avançamos um pouquinho no processo de reconhecimento do outro (cantaram colocando o dedinho no rosto do coleguinha)?

           As garratuchas do desenho da história receberam uma moldura e no dia seguinte, eles mesmos tiveram oportunidade de ver suas obras de arte valorizadas e guardaram identificando suas pastinhas.

           Esta semana, o menino que estava mordendo freqüentemente seus colegas, não mordeu ninguém. Foi importante eu ter me dado conta de que ele estava chamando a minha atenção, passei a super valorizá-lo em suas ações legais. Quando por exemplo, ele buscava pela mão, um coleguinha que não respondia as ações orientadas por mim. Ele estava eufórico, radiante de alegria, por ser recebido pela mãe, no final do dia e contar que “hoje se comportou direitinho”. Tenho mandado recadinhos em sua agenda, parabenizando por ter comido toda a comidinha do prato, etc.

           O Choro da aluninha a qual mencionei nos relatórios anteriores ainda me preocupam. Conversei com a mãe e ela manifestou algumas angústias familiares. Encaminhei ela para uma conversa com a psicóloga. Entre outras, a mãe está com um sentimento de culpa muito grande em estar trabalhando fora e ter que levar os filhos para a escola. Deixou escapar que a menina está dormindo na cama com os pais, Zulema A. Garcia Yañez, em uma palestra que assisti esta semana na PRIMEIRA CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE N.H, questiona: O que as crianças precisam ainda carregar de casa, quando não conseguem se desprender e vivenciar outros ambientes em seu cotidiano? Porque precisam trazer consigo, objetos, membros da família e/ou lembranças? Ela diz que não nascemos sujeitos, vamos nos estruturando sujeitos. Acredito então que se uma criança não se constituiu ainda sujeito da própria família, terá dificuldades de identificar-se como um sujeito social. Então, esta menina não está sendo vista como sujeito no núcleo familiar, falta-lhe atenção, não está sendo percebida como indivíduo e sim como uma extensão da mãe (suposição minha com base em minhas concepções).

           Zulema observa que há poucos laços simbólicos parentais, quando nossos alunos estão chegando na escola cada vez mais cedo. Os pais trabalham o dia todo e à noite não têm momentos de qualidade com seus filhos. Lembra-nos da importância de colocar a criança como interlocutora dos diálogos. Quando, também, uma criança não é suficientemente atendida por seu primordial, está sujeita, muito mais, a transtornos em seu desenvolvimento. Enquanto educadores, estarmos atentos a estas questões porque nesta faixa etária de 0 à 3 anos, nosso trabalho é na construção de SERES HUMANOS. Devo registrar que no passeio que fizemos esta semana no bosque nos arredores da escola, a menina a qual mencionei acima, ficou radiante de alegria, sorria muito e estava muito feliz. Neste passeio as crianças aprenderam conceitos como lááá no alto, láááá em baixo, subir, descer, auto confiança, ser valorizadas em superar obstáculos, descobrir que podem, além de conhecerem os nomes das coisas que fazem parte daquele ambiente. Observei que crianças que não falavam, repetiam sem perceber, frases ditas em coro, com a professora e os coleguinhas. Até a noção de números foi trabalhada, na medida em que, um por um, desfilou nas escadas, superando o medo e contando os degraus na sequência até 11. Tenho certeza que algumas crianças perceberam que os números servem para quantificar, da forma deles, é claro. Porque, posteriormente, no balanço da pracinha, tiveram a iniciativa de contar as embaladas para que a próxima criança tivesse chance de também, se embalar. Este passeio foi eternizado com uma atividade improvisada: cada criança escolheu uma folhinha do chão, levou até a sala de aula com muito carinho, “pois era um bebê” que posteriormente foi colada em uma almofada de espuminha, pintada pelas crianças com o dedinho e tinta, contendo um cartãozinho registrando o momento.

        Uma das crianças que não falava, não porque não sabe falar, mas, porque não conseguia relacionar-se com o outro, está falando. Observei nos vídeos que esta semana passou a participar ativamente nas atividades da rodinha, está fazendo os gestos e cantando. Vi ela um dia destes, de mãos dadas com uma coleguinha, na pracinha cantando juntas. No refeitório, na quarta feira, ela passou a pedir mais, o que desejava repetir. Super valorizei a ação dela e ela até sorriu.

         A aluna que tinha dificuldades em chegar na escola pela manhã, está chegando: CHEGANDO! Está até sentando com os coleguinhas, para assistir desenho enquanto esperam os demais chegarem; Está brincando aos pares móveis dentro da sala e na pracinha da escola e sentando na rodinha; Está demonstrando prazer em fazer isso, quando há poucos dias atrás, rejeitava toda e qualquer atividade em que ela faria parte de um grupo. Percebi que quando a mãe passou a confiar na escola e na professora para ficar com sua filha, a menina passou a ter confiança e sentir-se concedida a gostar da escola.

         Tenho conversado com algumas mães para considerarem a fala de seus filhos como interlocutores nos diálogos. Perguntarem e ouvirem o que seus filhos querem dizer. Observei também a importância de darem a eles, alimentos que fortalecem a musculatura da boca e da língua, como por exemplo, comer cenoura, maçã, etc. A dentista fez uma avaliação nas boquinhas da turma toda e constatou que algumas crianças já estão com a formação da mandíbula prejudicada pelo uso da chupeta e com o costume de algumas crianças chuparem o dedo. Aproveitei esta situação para falar com as mães relacionando com a oralidade. Aos poucos devem iniciar o processo de tirarem o uso do bico com seus filhos e que isso ajudará no fortalecimento muscular que proporciona estrutura para a voz. Com isso as crianças começarão a falar mais e melhor. Acredito ter chamado a atenção para estas questões. Houve uma criança que não se sentiu segura em mostrar a boca para a dentista, a Júlia, fiz esta intervenção então, no meu colo, eu abri a sua boquinha e a dentista pode fazer a avaliação. Não tinha percebido que esta menina tinha a mim como referência de confiança. Ela brinca com todos e interage super bem na escola.

           Lembramos que na semana passada, as frequentes mordidas haviam me preocupado. Nesta semana assisti uma palestra da Dr. Luciane Facchini e ela brilhantemente coloca que crianças com atividades dirigidas, não terão tempo de disputarem posses de brinquedos e espaços na escola. Isso me remete a importância de eu planejar minhas aulas, muito além da rotina pré-estabelecida, com ações que levam a exploração do ambiente e experienciação tendo como instrumentos todos os recursos que a escola proporciona. Por exemplo, no encontro de formação, sexta feira à noite, que tratou do tema “ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO NA ESCOLA INFANTI, texto de Maria C. S. Barbosa e Maria da Graça S. Horn (cap. 6), me dei conta de que, eu não sabia se todos os meus alunos, agora 21, já haviam explorado todos os brinquedos da pracinha . Tenho que fazer estas experiências na próxima semana e tenho certeza que mais do que observar se alguma criança tem algum medo, a superação deste, por meio da confiança será um importante passo no amadurecer e sentir-se capaz de superar os desafios. Barbosa e Horn nos diz que o estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias é antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos das crianças. Este texto nos dá várias sugestões para o planejamento das aulas e que devemos considerar que devem ser atividades que envolvam o cuidado com a saúde, que todos os momentos podem ser pedagógicos e ao mesmo tempo devem atentar para a construção da autonomia, dos conceitos, das habilidades, do conhecimento físico e social. O momento da escovação dos dentinhos, por exemplo, as crianças aprendem a ter amor pelo próprio corpo e a cuidar deste corpo com carinho. A psicomotricista Zulema relata que muitos casos diagnosticados erroneamente como transtornos psicomotores, nada mais é, do que crianças que não sabem administrar o próprio corpo porque algumas mães ainda insistem em tratá-las como bebês.

            Ainda nesta semana, foi realizada a atividade de observar-se no espelho. Esta foi feita, de forma que as crianças não perceberam que era direcionada. Percebi que, acreditando que era da vontade delas olhar-se no espelho, até disputaram este momento cantando a música: “Janela...”, observando o próprio rosto. Quando tiveram a oportunidade de escolher os olhos, nariz e boca para colar na atividade que formaria um rosto e seria uma imagem para também cantar a cantiga, aprenderam que é necessário dois olhos, um nariz e uma boca para representar um rosto, mais que isso, perceberam que todos são diferentes e mesmo assim formam um rosto. Com isso trabalharam a construção de identidade social, a aceitação do diferente como “igual” e que existe algo mais no corpo além do rosto.

            Foi interessante imitar sons e onomatopéias (os barulhinhos que os animais reproduzem). As crianças que não falam em situações cotidianas em que necessitam de autonomia, na hora de repetir o que o porquinho faz, por exemplo, fazem, no mínimo um esforço para dizer: croc, croc.

            Percebi que tendo como foco neste projeto O Desenvolvimento da Oralidade, tenho de planejar atividades relacionadas ao desenvolvimento da autonomia, a construção da própria identidade e da identidade enquanto sujeitos sociais. Acredito que isso se dá ao fato que o falar = a comunicar-se. Para comunicar, deve existir o que, porquê e para quem, e, se, a criança não se vê como sujeito, não se reconhecerá fazendo parte de um grupo e não haverá a necessidade de comunicação, nem de si mesmo e nem numa interrelação. Para o planejamento da próxima semana pretendo trabalhar com atividades que estimulem mais intensamente o fortalecimento dos musculatura da boca responsáveis pela voz e a necessidade de falar.

3 comentários:

Anice - Tutora PEAD disse...

Olá, Elisângela:

Vi teu email e resolvi responder por aqui.

Mais uma vez, fizeste uma postagem muito interessante relatando tuas descobertas, unindo teoria com prática e refletindo sobre o que ocorreu na semana. É exatamente este o propósito do blog.

Descreves algumas atividades e isto pode ser evitado aqui no blog, já que já tens um espaço para descrever as atividades que é o pbwork do estágio.

A postagem é semanal e só é necessário que seja realizada novamente, se a pessoa não trouxe reflexões, certo? O que não é o teu caso, pois estás sempre analisando o que aprendeste na semana. Não te preocupes.. estás no caminho certo.

Grande abraço, Anice.

Unknown disse...

Anice, amahã postarei aqui minha reflexão da semana. É que quero escrever uma específica para o blós e hoje estou extremamente cansada, abraços.

Anice - Tutora PEAD disse...

Ok, Elisângela!

Abraços, Anice.