Quero compartilhar com todos minha reflexão sobre a pergunta àbaixo, atividade da interdisciplina de Linguagem e Educação, porque a própria afirmação da autora nela contida me deixou angustiada porque não acredito que seja a realidade dentro de uma sala de aula.
No Texto – Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola (KLEIMAN, 2006).
Por que a autora afirma que a escola, sendo a mais importante agência de letramento, não se preocupa com o letramento social e sim apenas com um tipo de letramento, o escolar?
Já sabemos que quem fala não necessariamente lê e /ou escreve. Uma coisa nem é interligada a outra. Sou professora de alfabetização e tenho alunos que lê muito bem, mas na hora de escrever ainda estão no nível silábico. Ainda, não se fala apenas com a voz, mas com inúmeros instrumentos de linguagem que transmite uma mensagem e faz comunicação. Surdos “falam” através da linguagem dos sinais. Imagens, placas, cenas, braile: “falam”.
O conceito de letramento tem haver com o desenvolvimento social e identidade nacional, não basta ler e escrever, é necessário à intercomunicação do leitor e escritor numa ação ativa no processo de desenvolvimento de identidade social. Percebo alunos que são letrados antes mesmo de serem alfabetizados. Em atividades orais posicionam-se criticamente e interpretam textos e imagens de forma correta como se estivessem decodificando os símbolos gráficos. Assim como alunos alfabetizados que não conseguem fazer interpretações e formatar, nem mesmo conceituar mensagens transmitidas pelas ferramentas da comunicação.
KLEIMAN, 2006, quando fala das práticas de letramento na escola, faz referência a atividades escolares que não desenvolvem no aluno a construção de textos argumentativos que demonstrem posicionamentos e ação reflexiva. Tenho visto diariamente colegas questionar-se sobre estes novos alunos que em nada se parecem com os alunos que tinham no início de suas carreiras. Os professores têm o mesmo método de ensino de antes, os conteúdos são praticamente os mesmos e, no entanto alunos chegam ao ensino médio sem conseguirem fazer uma interpretação correta de um texto simples. Os professores não sabem o motivo disso tudo. Eu acredito que trabalham da mesma forma que antes e, há uns 10 anos atrás tínhamos alunos críticos e conscientes de sua identidade e identidade social, não é culpa das escolas e professores que estamos tendo uma demanda de indivíduos que não conseguem construir o raciocínio lógico quando os professores, instrumentos de aprendizagem e escola são as mesmas. É nosso dever reverter este quadro, mas, na prática em sala de aula vejo os professores perplexos por que os alunos, em alguns casos não possuem um raciocínio lógico quase que primitivo para compreender o que lhes cerca. Atividades para a superação de desafios eram desenvolvidas pela mesma faixa etária de alunos que hoje não têm estruturas cognitivas para desenvolvê-las. Detalhe: A professora que não compreende este fenômeno é a mesma que formou indivíduos com estruturas cognitivas bem avantajadas e profissionais com inteligência admirável. Não sei se respondi a questão e posso ser interpretada como quem não a compreendeu. No entanto não vejo a escola como quem “não se preocupa com o letramento social e sim apenas com um tipo de letramento, o escolar”. Esta não é a realidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
KLEIMAN, “Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola”, EIXO 7 interdisciplina eduad037 – linguagem e educação, MÓDULO 2, PRÁTICAS DE LEITURA, ESCRITA E ORALIDADE NO CONTEXTO SOCIAL TEXTO 2, 2006.
Um comentário:
Olá, Elisângela!
Gostei bastante das tuas colocações e que bom que postaste aqui no blog para compartilhar com teus leitores.
Fiquei pensando no que disseste sobre os alunos que tem "raciocínios lógicos quase que primitivos". Tua explicação sobre isso me parece bem pertinente. Falta hoje a questão da referência! Muitos não sabem nada sobre si, sobre seu contexto e tampouco são estimulados por seus familiares... aliás, muitos nem familiares possuem, não é mesmo?
Esses fatores explicam a diferença entre agora e o cenário de 10 anos atrás.
Abraço. Anice.
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